O aprendiz chega à sala do mestre esbaforido e manda na
lata:
_ Por quê?
O mestre nada faz. Não esboça qualquer reação a pergunta, fica
impávido.
O aprendiz não se deixa vencer a essa primeira negativa e
prossegue:
_ Me diga, você é o mestre.
Os olhos do mestre se fecham.
O aprendiz começa por enervar-se.
_ Sei que pode me ouvir. De que adianta ser mestre se não é
capaz de ouvir.
O mestre suspira. Apenas isso. Apenas um suspiro.
O aprendiz sai praguejando, para em uma hora voltar.
_ Pode ser que tenha perguntado errado. Não é o porquê, mas
como?
O mestre mantém sua postura. Quem olhar essa cena pode achar
nela uma pitada de crueldade no velho mestre. Todos notam como o aprendiz está
ansioso por uma palavra do velho mestre.
_ Mestre como? Qual o sentido?
Ainda nada.
_ Se não é o porquê e nem o como, que pergunta devo fazer?
O mestre por fim responde:
_ As perguntas não possuem relação com as respostas. Pelo
menos não com as respostas que espera.
O aprendiz vira-se e caminha com o peso do desapontamento. O
que ele quer dizer. Não se deve perguntar. Será que a aceitação é o que resta.
Aceitar tudo é o caminho?
Anos passam e o mestre resolve voltar a questão com o
aprendiz, que agora já é mais que um aprendiz, mas alguém com muitas
responsabilidades dentro da estrutural na qual estão inseridos.
_ Lembra quando quis saber o porquê ou como, uma coisa que
sempre quis saber de que porque falava, já que a vida tem tantos desses e andam
por tantas partes.
_ Não me lembro mestre. Às vezes o que resta é apenas o
banhar-se no rio da vida. Ver o porquê e o como das coisas é uma necessidade, todos
queremos poder tocar a verdade mesmo que essa seja apenas nossa, nem me lembro
mais o que me inquietava aquela tarde. Fiquei com muita raiva do senhor por
muito tempo, mas por agora, tenho esse, que considero um dos maiores
ensinamentos que aqui tive: não se pode culpar o tempo quando a esse não damos passagem.
Só o tempo é o senhor da vida.
Ao que o mestre responde:
_ Já não é mais um aprendiz. Fico feliz.
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