João atravessou a rua sem olhar para os
lados. Queria um carro, podia ser um pequeno, que o acertasse em cheio e
deixasse seu corpo pelo chão. Precisava enganar as leis celestiais, sempre foi
católico e sabia que o suicídio lhe tiraria a possibilidade de céu.
Acreditava com fé inabalável que merecia o
céu, uma vez que, o inferno já estava vivendo aqui, no agora, há muito tempo.
Nada
de carro! Esse era outro dos problemas de sua vida. Nada acontecia. Podia ser esse
um problema que só existia porque morava em uma cidade pequena. Se quisesse ser
atropelado em São Paulo ou no Rio seu corpo já estaria duro, enterrado e frio.
Não que João tivesse motivos para querer a
morte. Faltavam motivos para querer a vida. Nada chamava sua atenção.
Foi um menino interessante, achavam-no
autista ou com alguma síndrome social nunca comprovada mesmo sendo avaliado por
muitos especialistas, nada! Reparem como sua vida flutua sobre o nada. Até Dona
Chica, a benzedeira, deu-lhe um banho de alecrim e urtiga em uma tarde chuvosa
de dezembro bem no alto de seus 13 anos e nem direi o que aconteceu, espero a perspicácia de você avido leitor.
Ganhou cachorro, time para torcer, festa a
fantasia. Não se resolveu por nada e a vida ia.
Casou, descasou, viu sua mulher casar
novamente e pasmem nada.
Parece que seu único desejo era o céu. Poder
se encontrar com Deus e dizer-lhe cara a cara umas boas verdades